Adilson de Paula Almeida Aguiar - Zootecnista, professor em cursos de pós-graduação na REHAGRO, na Faculdade de Gestão e Inovação (FGI) e nas Faculdades Associadas de Uberaba (FAZU); Consultor Associado da CONSUPEC - Consultoria e Planejamento Pecuário Ltda.
Na parte 01 do texto (veja aqui) sobre esse assunto fiz a introdução com o seguinte conteúdo: “dia 21 de junho chegará a estação de inverno de 2025 no Hemisfério Sul e se você trabalha em regiões onde essa estação coincide com a estação da seca, penso que o conteúdo desse artigo é do seu interesse"...
Mas hoje, nesse momento que estou escrevendo a parte 02, dessa sequência de artigos, ainda é 11 de fevereiro de 2025, portanto quase quatro meses para chegar a estação de inverno. Não está muito distante? O período de chuvas ainda não chegou ao seu fim. Então por que se preocupar agora? De fato, eu afirmo que para a maioria das estratégias para a conservação e transferência de forragem para a estação da seca já está é tarde. Entretanto, uma das estratégias para garantir pelo menos disponibilidade de forragem em um planejamento alimentar em sistemas de pastoris continua em tempo - é o diferimento de pastagens. Então dando sequência aos procedimentos para tal objetivo.
No mês escolhido para o diferimento e nas pastagens que serão diferidas, deixar um lote de animais fazer um pastejo mais intenso com o objetivo de eliminar a forragem velha e morta que se acumulou na pastagem desde o início do período chuvoso. Forrageiras do gênero Cynodon devem ter sua altura rebaixada para 10 a 15 cm; a B. decumbens para 15 a 20 cm; o capim Braquiarão para 20 a 25 cm. Fazer o pastejo mais intenso com animais adultos que estiverem com boa condição corporal.
Em algumas situações é recomendada a aplicação de nitrogênio (50 a 100 kg de N/ha) e enxofre naquelas pastagens, logo após o rebaixamento do pasto e a saída dos animais. Estes nutrientes contribuirão para aumentar a longevidade das folhas, ou seja, fazer as folhas permanecerem verdes por mais tempo na seca, para prolongar o tempo de rebrota, mesmo na seca, aumentar a proporção de folhas e melhorar o valor nutritivo da forragem.
O planejamento do diferimento deve ser feito com o objetivo de acumular entre 3,0 e 4,0 t de matéria seca/ha (MS/ha). Não se recomenda acumular mais massa de forragem para que a planta não fique muito alta, com maior proporção de talos e mais pesada, condições estas que contribuem para o aumento das perdas de forragem por acamamento (tombamento de plantas) e para a redução do valor nutricional da forragem (redução na relação folha/caule, empobrecimento da composição química, aumento da deposição de fibra e redução na digestibilidade).
Em termos de proporção da área da propriedade que deve ser diferida, vai depender muito da taxa de lotação que se trabalha no período chuvoso e a taxa de lotação programada para o período da seca. É importante, dentro de um planejamento alimentar de uma propriedade, programar os descartes e vendas de animais ao mesmo tempo, em que se faz o diferimento das pastagens, basicamente no período de transição chuva/seca.
Normalmente, para sistemas extensivos e semi-intensivos, o diferimento de 20 a 40% da área de pastagens da propriedade é recomendado.
A oferta de forragem é um parâmetro calculado com base em kg de MS para cada 100 kg de peso corporal dos animais. O controle da oferta de forragem pelo manejador da pastagem possibilita aos animais maiores ou menor nível de seletividade da forragem disponível.
Como o valor nutritivo da forragem diferida não é alto, é recomendado que a oferta de forragem (kg de matéria seca/100 kg de peso corporal) seja alta para permitir que o animal exerça a seletividade das partes mais ricas da planta, que são as folhas, mesmo que secas, durante o ato de pastejo.
Em pastagens diferidas com alta oferta de forragem animais nelores e cruzados conseguiram selecionar forragem com mais de 10% de proteína bruta e mais de 60% de nutrientes digestíveis totais (NDT) a partir de forragem disponível em cuja composição tinha 4,5 a 5,0% de proteína bruta e 45% de NDT.
O ideal é ofertar pelo menos quatro vezes a quantidade que o animal consome, ou seja, 8 kg de MS/100 kg de peso corporal, se admitirmos que o consumo de forragem de qualidades baixa a média, será de 2 kg de MS/100 kg de peso corporal. Existe uma interação entre disponibilidade de forragem e taxa de lotação sobre o ganho de peso por animal e por área.
Em um experimento com taxa de lotação de 1,4 UA/ha durante a seca, houve ganho de peso por animal e por área, enquanto com 1,8 UA/ha houve perda de peso por animal, com consequente perda por área. Uma pequena diferença de 0,4 UA/ha fez a disponibilidade de forragem cair de 3.200 kg de MS/ha para 2.400 kg de MS/ha no início da seca e reduzir o resíduo pós-pastejo de 1.400 para 1.000 kg de MS/ha, no final da seca. A menor disponibilidade de forragem resultou em menor oferta de forragem, com consequente redução na capacidade do animal selecionar uma dieta de maior valor nutritivo.
A forragem que se acumula em pastagens diferidas tem seu valor nutritivo reduzido e desse modo, mesmo tendo alta disponibilidade de forragem, é preciso suplementar os animais com os nutrientes deficientes na forragem.
No período da seca o nível de proteína bruta está abaixo daqueles 7% mínimos exigidos para a manutenção do peso de bovinos e no período de transição seca-água este nível só é possível para manter o peso corporal. Desse modo, se for desejado ganho de peso é preciso suplementar os animais com suplementos ricos em proteína degradada no rúmen tais como suplementos que usam ureia e farelos proteicos. Mas a suplementação animal em pasto será tema de outros artigos.
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