Adilson de Paula Almeida Aguiar – Zootecnista, professor em cursos de pós-graduação nas Faculdades REHAGRO, na Faculdade de Gestão e Inovação (FGI) e nas Faculdades Associadas de Uberaba (FAZU); consultor associado da CONSUPEC – Consultoria e Planejamento Pecuário Ltda; investidor nas atividades de pecuária de corte e de leite.
Na segunda parte dessa sequência de artigos descreverei as ações que o pecuarista precisa estar preparado neste período de transição, mas antes descrevo rapidamente alguns antecedentes para o leitor que não leu a Parte 01 e mesmo para aquele que leu se lembrar do contexto em questão.
Do território brasileiro 92% encontra-se no hemisfério sul, 93% na zona tropical e nesta sequência de artigos estamos trabalhando na região tropical do país onde o período chuvoso ocorre nas estações de primavera/verão, ou seja, entre setembro e março (para melhor compreensão da parte 02 sugiro a leitura ou releitura da parte 01). Clique aqui para ler.
Para aqueles que vão estabelecer pastagens, é recomendado que as espécies e cultivares forrageiros que serão plantados já tenham sido escolhidos, que as sementes já estejam armazenadas na fazenda, que a análise de seu valor cultural já tenha sido feita em laboratório independente e comparada com a garantia da empresa para evitar surpresas desagradáveis e dissabores, que o peso de mil sementes (PMS) já seja conhecido, que a taxa de semeadura já esteja calculada, que as máquinas, implementos e veículos que irão trabalhar no estabelecimento da pastagem já tenham sido revisados, que a equipe que irá executar já tenha sido treinada, que o solo já esteja preparado, no caso de preparo convencional, ou que já esteja tudo preparado para a dessecação da vegetação para plantio direto (plantio na palha);
Que a infraestrutura de suporte ao manejo do pastoreio (módulos de pastoreio, cercas, aguadas, cochos, etc.) esteja pronta ou sua manutenção em dia para aproveitar ao máximo o melhor período de produção animal em pasto;
Se houve erros no manejo do pastoreio, provocados pelo subpastejo, e agora o pasto está com sua estrutura comprometida, desuniforme, entouceirado, com muitos talos nas touceiras, e com perfilhos aéreos nestes talos, esteja preparado para roçar o pasto para corrigir a sua estrutura. A primavera, de outubro a dezembro, na região onde estamos trabalhando, é a melhor estação para roçar pastos;
Para o controle de plantas daninhas, por pulverização foliar, a primavera chuvosa é a melhor estação para a pastagem responder com vigor à eliminação da competição por fatores de crescimento, luz, dióxido de carbono, água, nutrientes e espaço. Assim o pecuarista deve estar preparado, com herbicidas comprados e já armazenados na fazenda, máquinas revisadas, pulverizador regulado, equipe treinada;
Para o controle de insetos-pragas da pastagem, principalmente das cigarrinhas que atacam pastagens e lagartas, que são os insetos-pragas que mais atacam pastagens na estação chuvosa, uma equipe de campo treinada para tal fim deve estar preparada para com uma certa frequência monitorar o surgimento daqueles insetos para que seu controle seja feito antes que a sua população alcance o nível de dano econômico;
Se o pecuarista vai adubar pastagens espera-se que os corretivos (calcário e gesso) já tenham sido aplicados desde o final da estação chuvosa anterior para que já tenham reagido no solo; que os adubos já estejam comprados e armazenados na fazenda, que as doses de adubos que serão aplicadas tenham sido quantificadas com base em metas específicas e com análise de viabilidade técnica e econômica, etc., do contrário é preciso reavaliar o programa e talvez tomar a decisão de deixar para o ano seguinte. As condições climáticas da primavera condicionam repostas muito altas às adubações.
Para pecuaristas que irrigam pastagens tudo deve estar preparado para maximizar a produtividade na estação de primavera a qual apresenta as melhores condições ambientais para a máxima resposta da pastagem à tecnologia;
Em um programa de suplementação animal em pasto bem elaborado o ano é dividido em quatro períodos: transição seca/chuva, chuvas, transição chuva/seca e seca. Em cada um destes períodos deve haver mudanças no programa, no tipo de suplemento, na sua quantidade e na sua composição, de acordo com a qualidade e a quantidade da forragem disponível, como também as metas de desempenho de cada categoria animal do rebanho. No período de transição seca/chuva quando na maioria das fazendas os animais perdem condição corporal por causa das diarreias, hoje existem aditivos que, incluídos nos suplementos, previnem este quadro minimizando seu impacto sobre o desempenho animal;
Fazendas que exploram pastagens intensivamente no período chuvoso, e que não tem sistemas de irrigação, devem planejar a produção de volumosos suplementares para suplementar o rebanho principalmente no período de transição seca/chuva. A suplementação dos animais que voltarão para as pastagens após este período de transição tem sido denominada por “sequestro”, mas o termo mais apropriado é “confinamento da recria” e tem sido usado em fazendas de cria e de ciclo completo principalmente para os animais que foram desmamados na seca e para bezerras que serão desafiadas a serem superprecoces na estação reprodutiva seguinte e novilhas prenhes que irão parir neste período e serão as primíparas na próxima estação reprodutiva. Por outro lado, em fazendas de recria e engorda, o confinamento da recria tem sido usado como estratégia para repor animais mais facilmente e com menor custo de ágio ainda durante o período da seca. O confinamento dessas categorias animais também tem sido usado como uma poderosa estratégia para o manejo do pastoreio neste período de transição.
Por exemplo, um trabalho conduzido na APTA, em Colina (SP), dois sistemas foram avaliados durante 240 dias, sendo que destes, 60 dias foram de período de transição seca/chuva quando um lote de bezerros permaneceu na pastagem, enquanto outro foi confinado. A altura média do pasto foi de 20 cm no início do trabalho em ambos os tratamentos, entretanto 60 dias depois, no início das chuvas, as alturas médias estavam em aproximadamente 15 e 30 cm, nos tratamentos em que os bezerros permaneceram na pastagem e em que foram confinados, respectivamente.
Por fim, chama-se a atenção para o fato de que numa mesma estação, em um mesmo período, o acúmulo de atividades é grande, sem considerar que ainda há, em alguns estados, campanha de vacinação contra a febre aftosa em novembro, fora os imprevistos. Neste contexto recomenda-se que:
É preciso ter um planejamento de curto, médio e longo prazo, o qual deve ser elaborado com base em um inventário prévio, o qual deu suporte a um diagnóstico e um plano de metas;
Que no planejamento de curto prazo, neste caso específico, apenas no período de transição seca/chuvas, é preciso que todas as ações, tarefas, procedimentos estejam em um calendário de preferência impresso e afixado em um local visível para toda a equipe (gestão à vista). E que o mesmo tenha sido discutido exaustivamente com a equipe que irá executar;
Que a execução de cada ação, tarefa ou procedimento tenham sido avaliados sob as seguintes perspectivas: por que, onde, quando, por quem, quanto e como;
Esta sequência impedirá que haja “encavalamento” na execução e permitirá que se aproveite ao máximo as condições favoráveis do período de transição seca/chuva.
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